sábado, 18 de dezembro de 2010

O Bom e o Belo

Reflexão

Hoje notei que eu tenho duas maneiras terríveis de lidar com coisas aparentemente difíceis ou que eu acho feias em mim. A primeira atitude que eu tenho quando um problema surge é me preocupar com ele com toda a alma, tem problemas que são fáceis de lidar, mas outros são mais difíceis, porque muitas vezes eu vou ter que enfrentar o monstro do orgulho. Então, eu busco fugir desse problema, seja ele qual for, usando de várias técnicas. A primeira é negar que há um problema. Eu sei que o problema está lá, mas eu não penso nele, ou não me permito ficar consciente desse problema, eu sei que ele existe, eu sei que está ali e eu observo tudo menos ele. Faço isso até o ponto em que conscientemente não penso mais nele, mas ele se torna uma coisa maior, o problema deixa de ser matemática para se tornar sofrimento.
Então, vou adiando isso, com vergonha de dizer qual o meu problema. Então tenho a segunda atitude, pois com vergonha de pedir ajuda, peço ajuda nos cantos mais íntimos com muita dificuldade, se eles não tem como me ajudar, volto ao problema, dou mais força para ele, mais vida e depois tento apagá-lo com distrações. A vergonha vem do orgulho, do orgulho de não querer admitir que eu tenho problemas, o orgulho que vem como uma muleta para a não-aceitação, porque mantenho o meu orgulho porque equivocadamente penso que se eu mostrar minhas fraquezas para as outras pessoas elas não vão gostar de mim, ou pior, vão me debochar, me humilhar e me deixar completamente destruída. Vergonha, orgulho, falta de auto-aceitação e medo.
É aí que entra a sedução, a falta de cuidado comigo, uma necessidade exagerada de atenção. Precisar do amor e da atenção do outro parece ser uma forma inconsciente de gritar desesperadamente que há algo de errado e que eu preciso absurdamente de ajuda. Mas, não vou pelo lado fácil, porque eu tenho vergonha de contar os meus problemas, porque geralmente meus problemas são gerados por mim mesma, por minhas incapacidades, meus medos, minhas compulsões, admitir um problema desse é o mesmo de admitir que eu sou uma louca e as pessoas não gostam de pessoas loucas e descontroladas como eu.
E nisso o problema vai inchando, mas eu não mais vejo o problema, me esqueci propositadamente da causa. Porém, a tristeza, o mau humor e a raiva vão aumentando. E na ânsia de não querer ver o problema, porque eu não tenho capacidade de resolver e muito menos meu orgulho me permite pedir ajuda, eu não noto que toda a minha atenção está focada nesse problema. E se tudo o que eu vejo é um monte de lixo, preocupação, problemas insolúveis, não há realmente como se sentir bem e feliz.

A Solução:

Mas, liberei meu problema, eu consegui confidenciar para alguém o que eu estava sentindo e motivo pelo que eu estava sentindo tudo aquilo, isso de fato não resolveu o meu problema, só senti uma vontade absurda de chorar e raiva por mim mesma por ter deixado tal coisa acontecer. Porém, o milagre acontece da forma mais suave. Todo a minha energia estava em evitar o problema, quando escrevi esse problema para o papel e em seguida dei para alguém que eu confiasse ler (minha madrinha), eu liberei um pouco do problema, deixei aquela energia fluir. Então, uma amiga mandou um e-mail com os seguintes dizeres: “Espiritualidade para mim, é também contemplação do que é belo, onde encontro a mão da criação generosa do Poder Superior. Vendo essas fotos, só posso a cada momento estar grata, por poder ver, por poder entender, por ser sensível à beleza, por estar disposta a olhar para o que é belo”.
Nem pensei nisso, apenas li e me permiti ver o anexo, estava amargurada, afundada numa lama cinza de tristeza. Baixei o anexo, abri e olhei as imagens, meu mau humor logo quis predominar, logo pensei em tirar, mas fiquei lá, olhando, não tinha nada pra fazer mesmo. Então, observei a musica e as imagens passando e tive um forte insight. E vi que eu não estava conseguindo enxergar a própria beleza em minha vida, estava tão focada no meu problema, estava tão focada em escondê-lo, que eu não tinha mais a capacidade de olhar ao redor e me permitir ver outra coisa, pensar outra coisa, ver o que ainda há de bom e belo em minha própria vida.
Lembrei então nesse momento de um texto que eu tinha lido ontem, onde o autor falava sobre como condicionamos as crianças, que se deixamos as crianças somente em casa, tudo o que elas entendem como mundo é o que se passa dentro da casa e é por isso que elas brincam de casinha, escolinha, de trabalho, e se perguntarmos como é a escola ou o trabalho para uma criança que ainda não foi para escola ou que certamente não trabalhou, ela dará uma resposta criativa e imaginativa que ela tem sobre aquilo. Porém, se nós ampliamos o horizonte dessas crianças, se a levamos para o museu e ao chegarmos em casa darmos papel e lápis coloridos, elas não vão somente brincar de escolinha, mas vão também brincar de fazer arte, pintar quadros e então essas crianças estarão ampliando o seu mundo e parando de fazer as brincadeiras repetitivas de antes. Quanto mais coisas novas e desconhecidas apresentarmos para uma criança, maior será a sua gama de atuação em suas brincadeiras, maior será o mundo imaginário infantil dela.
Comigo não é diferente. Eu não estou fazendo nada além de estar brincando de problema e sem me permitir abrir os olhos para ver a quantidades de coisas belas e ricas que tem nesse mundo para que eu possa brincar com elas. Então, eu fico numa brincadeira triste, infeliz, aonde vou me imaginando o pior ser do mundo, sem forças, imaginando só as piores situações, ao invés de brincar de ver o sol e fazer uma prece, ou de brincar de caminhar pelas ruas vendo a paisagem urbana e cinzenta que eu gosto e acho bonita. O que minha mente percebeu e eu não, é que havia ao menos opções sobre o que pensar, não pensei no que a amiga tinha dito, porque todo o meu foco de atenção estava voltado ao lamaçal terrível do meu problema e sentimento de fracasso, mas à parte “por ser sensível a beleza, por estar disposta a olhar para o que é belo”, entrou em meu subconsciente e fez florescer uma opção. Claro que me angustio e preciso de uma solução para o meu problema, mas eu não preciso ficar me punindo o tempo todo por isso, eu não preciso sofrer o tempo todo por isso, eu não preciso passar 24 horas do meu dia agitada, infeliz e mal humorada, sendo que há outras partes da minha vida que são belas, gentis e serenas.

Meditação:
Poder Superior, ajude-me a ser moderada e não me escravizar em meus problemas ou me punir eternamente por minhas falhas. Ensina-me a mudar de posição e deixar que meus olhos recaiam em sua imensidão para que eu note sempre que eu tenho opções. Dê-me sabedoria para reconhecer quando falar comigo e agir de maneira amorosa e construtiva para comigo mesma. Ajude-me a me lembrar sempre que minha vida é rica em variedade e que eu não preciso ficar sempre focada numa única coisa. Ajude-me a escolher o que é bom, belo e agir sensatamente, sem me escravizar também ao prazer.

Só por hoje eu vou apreciar e reconhecer tudo o que é belo e bom em minha vida e ser grata por isso.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Auto-Revelação

Meditações Melody Beattie - Auto-Revelação

...

Hoje, começarei a correr o risco de revelar quem sou a alguém em quem confio.
Libertarei alguns de meus artifícios protetores e arriscar-me-ei a ser vulnerável - embora possam ter-me ensinado diferente, embora eu possa ter ensinado a mim mesma diferente.
Revelarei quem sou de maneira que reflita a responsabilidade própria, o amor-próprio, a objetividade e a honestidade.
Poder Superior, ajude-me a abandonar o medo de revelar-me às às pessoas.
Ajude-me a aceitar quem sou, e ajude-me a libertar-me da necessidade de ser quem as pessoas querem que eu seja.
....

Melody Beattie
Livro: A Linguagem da Liberdade


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Caminho Se Faz Caminhando


Tenho há alguns dias pensado muito em mudanças e metamorfoses, mas pensar não tem me feito mudar muito, o que tem me faltado é a ação e hoje eu decidi agir. Primeiro que agora eu tenho uma madrinha no meu processo de recuperação e me sinto muito feliz por isso, isso me motiva a continuar com a recuperação e aprender mais e mais a cada dia. Meu segundo passo foi criar um msn para me comunicar com companheiros nessa jornada. E em terceiro lugar eu decidi criar esse blog. Fiz basicamente uma partilha no post anterior e isso já é o que eu tenho feito mesmo.

O que eu estou pensando fazer é verdadeiramente agir. Eu gosto muito de ler, mas ultimamente eu não quero ler, quero ficar conversando com os amigos no msn, tenho sentido dificuldade também de cuidar da minha própria espiritualidade, tenho sempre me sentido cansada do que eu tenho feito, por mais que eu saiba o quanto isso tem me feito bem. Então, eu vou seguir de hoje em diante um esqueminha que encontrei chamado de Prática da Vida Integral e como ainda não estudei direito sobre isso, vou colocar no campo de ação algumas coisas que eu li a respeito que é cuidar de corpo, mente, espírito e sombra.

Ação em prol da recuperação:

1 – Corpo
Exercícios físicos e alimentação saudável. Cuidar das minhas medicações, higiene e beleza.
Já faço caminhadas todas as manhãs, mas minha alimentação realmente deixa a desejar. Quanto as medicações, eu tenho que usar um anti-alérgico espirrando-o no nariz todos os dias, para evitar as crises alérgicas, mas normalmente eu deixo de usar quando estou bem até que eu comece a ficar mal da alergia. Beleza inclui tudo, se vestir bem, arrumar o cabelo, etc.

2 – Mente
Ler. Ler temas a respeito da recuperação, como temas psicológicos e espirituais.

3 – Espírito
Meditação – Preces – Cuidar da minha espiritualidade.

4 – Sombra
Psicoterapia, mas como no momento eu estou sem fazer terapia, minha sombra será tratada dentro dos grupos anônimos que eu faço parte.

Todos os quatro itens devem ser praticados diariamente. Ainda que a Sombra poderia ser uma terapia por semana, vou procurar ao menos ler as partilhas e manter um diário diariamente.

Vivendo sozinho sem sentir solidão

Ultimamente tenho sentido a falta de um companheiro, creio que isso se deve por alguns motivos. Primeiro que minha atenção está naquele período de se voltar pra fora, coisa típica pra mim, sempre quando eu quero fugir de mim mesma eu começo olhar ao redor. Porém, sei que sou do tipo extrovertida (ver Jung) e sempre quando algum processo doloroso ou conflitante acontece, minha reação é sempre me voltar para fora, falar, expor. Segundo, acho que como a minha ultima experiência com a minha criança interior foi muito forte, estou me pedindo inconscientemente um pouco de descanso, ou é simplesmente mais uma armadilha da auto-sabotagem. Terceiro que eu sinto ainda falta do jogo da sedução, ainda que menos vezes depois de dois anos de recuperação, eu às vezes ainda quero matar o tédio com uma boa dose de adrenalina, sou do tipo que procuro por problemas. Quarto eu tenho medo de estar mentindo pra mim mesma me negando a necessidade de um companheiro.

Refletindo os quatro pontos separadamente:
1-      Extroversão ou Auto-Sabotagem?
Depois que consegui vencer um pouco a vergonha que senti em expressar o contato com minha criança interior e todos os sentimentos que isso levantou, sinto que eu preciso de colo e penso prontamente em me mimar. Então, tenho procurado algum tipo de compensação e consequentemente tenho buscado o amor dos meus paqueras. Mas isso também é bastante conflitante para mim, pois não sei dizer até onde eu estou querendo realmente me mimar e até onde há realmente uma necessidade. Pois, eu terminei um namoro há um pouco mais de dois meses e depois disso procurei ficar sozinha, não tive mais nenhum contato com nenhum homem após o meu namoro e agora que estou sentindo que estou precisando disso. Um amigo acabou se apaixonando por mim nesse meio-tempo e eu estava compensando a falta do outro com ele, vi que não estava certo e tentei afastá-lo.

2 – Descanso ou Fuga?
Entendo que muitas vezes nós precisamos realmente de um tempo para digerir algumas coisas que nos acontecem, precisamos de um tempo para entender, para curar feridas e etc. Mas, eu noto que sempre chega um ponto onde eu fico completamente desinteressada em minha própria recuperação, sempre alego que tive uma experiência intensa e que preciso de descanso. Mas, muitas vezes já observei que tais descansos sempre me levam a recaídas. Justamente por não estar certa e já ter percebido que a idéia de descansar não me traz bons resultados, dessa vez eu não vou me mimar, não preciso de descanso coisa alguma e continuarei fazendo o que tenho feito e ainda melhor de como tenho feito.

3 – Procurar por problemas é realmente a solução?
A pergunta já diz por si mesma: NÃO! Problema nunca é solução, problema é e sempre será problema. Quem não gosta de ter uma pessoa acariciando o ego, fazendo tudo o que você quer que ela faça e a tratar feito um cachorro, hora você deixa ele ficar dentro de casa e depois o coloca no quintal. Esse é certamente o tipo de conduta que eu não queria que as pessoas tivessem comigo. Por que então vou querer fazer isso com alguém? Mas, por outro lado, eu não posso me passar por boazinha se eu realmente não sou e penso sim em deixá-lo ficar, penso sim em fazer o jogo da sedução, penso sim em que ele que deveria acordar para vida e ver o que está fazendo consigo mesmo. Porém, essas coisas ainda não estão claras e definidas para mim, eu estou confusa e quando estamos confusos o melhor a fazer é entregar nas mãos do Poder Superior e deixar que ele trate desses assuntos complicados para nós.

4 – Estou realmente bem sozinha ou mentindo para mim mesma?
Vejo que é muito importante eu refletir sobre isso nesse momento. Eu sempre me vejo pensando que eu quero um companheiro, mas eu nunca sei na verdade porque eu quero um companheiro, eu não sei na verdade nem me responder direito como quero um companheiro. Isso denota que é um desejo irracional, pelo fato de ser um desejo não pensado.
Eu estou sozinha nesse momento por opção, não porque eu acho que ninguém vai me amar como ocorria no inicio da minha recuperação. Sei que estou sozinha porque eu quero, porque não quis sair de um relacionamento e já entrar em outro para tentar superar. Logo que terminei decidi que ficaria sozinha por um tempo, até eu realmente me curar do meu ex. Porém, eu ainda noto que eu gosto dele e temo querer retornar a namorá-lo. Então, eu noto que não estou pensando num compromisso sério com ninguém agora, mas também noto que não quero ficar absolutamente sozinha, queria realmente só ter com quem sair de vez em quando e que me deixe livre para fazer todas as outras coisas que eu tenho e quero fazer por mim mesma.
Então, sim, eu estou bem sozinha, quero continuar comigo, fazendo minhas coisas, mas também quero paquerar e dar um pouco de risada porque eu estou realmente tendo uma vida desequilibrada. Ia já falar a mentira que tenho repetido para mim mesma, sobre ter muita disciplina e pouco descanso, mas isso é mentira, porque embora eu estou realmente sobrecarregada,  eu não tenho feito nada bem, tudo o que eu tenho feito é mentir para mim mesma. E o mais engraçado é que ao observar a verdade sobre o que eu tenho feito, eu quero automaticamente começar a ter pena de mim e querer me mimar.

Próximos passos:

1 – Observar a egolatria.
2 – Observar a auto-piedade.

Introdução

Primeiramente dei a esse blog o nome de Lado B porque é hora de trocar o disco da minha vida e viver de uma maneira diferente. Esse aqui é o diário de uma dependente afetiva em recuperação. Também não me chamo Agnes, porém esse é nome pelo qual posso ser chamada mantendo o meu anonimato.

Após uma experiência muito forte com a minha criança interior e um seguido sentimento de liberdade e desejo forte de mudança, eu decidi que quero me empenhar mais em minha recuperação. Eu estou cheia de desculpas para não ir à reunião presencial, mas tenho participado ativamente dos grupos disponíveis na Internet.

Eu sou uma dependente afetiva e estou em processo de recuperação e minha intenção com esse blog é buscar viver o melhor possível, pensar mais a respeito das coisas que eu tenho que fazer em prol da minha recuperação e me tornar mais disciplinada para assim evitar as minhas recaídas.

Esse blog será o meu diário que há muito tempo eu não mantenho e um espaço onde eu posso refletir sobre tudo o que venho aprendendo com as pessoas que estão caminhando comigo nesse processo. Essa é uma forma de me manter focada nesse caminho.

Essa foi só uma pequena introdução.